CUSTO E BENEFÍCIO x CUSTO E MALEFÍCIO
Enxergar além do que se vê
por Renato Fazzolari
Vocês já perceberam que praticamente em tudo na vida existe uma correlação entre Custo e Benefício, e quando o somatório dos benefícios for proporcionalmente superior aos custos, isso pode determinar o sucesso tanto do indivíduo, quanto das empresas, isto porque, embora normalmente se utilize a expressão Custo x Benefício em relação ao aspecto econômico, ele está presente em todos os fatores humanos e empresariais, querem exemplos:
Emocional –“Investi tanto nesse relacionamento e no fim ela me deixou pelo Joãozinho."
Moral – “Apostei nesse político e agora caiu a máscara, é um ladrão, sem vergonha."
Físico – “Gastei tanto tempo me preparando para essa competição, mas valeu, olha a medalha que ganhei."
No entanto, nem sempre o custo está atrelado a um benefício, pode também estar atrelado, principalmente, a um malefício, conforme os dois primeiros exemplos acima, e é aí “que a coisa pega”! Pode doer no corpo, na alma e no bolso. Como analisar os três demanda muito tempo, vamos procurar nos concentrar no relacionado ao bolso.
Para sermos mais didáticos, vamos dividir esta análise do Custo x Benefício econômico em dois segmentos, um bem racional e transparente, quando o simples cálculo matemático define o resultado, exemplo:
Compro por 2 e vendo por 4, (4 -2 = 2); benefício obtido igual a 2.
Agora vamos analisar um outro Custo x Benefício, ou melhor, um custo que pode se tornar em malefício, se não tivermos o cuidado de enxergar além do que se vê, e para isso vamos considerar um fato real e relevante que vem acontecendo amiúde no segmento sucroalcooleiro; trata-se da postura, mais do que a política de cargos e salários e o recrutamento de profissionais, que por sinal é nossa praia, e achamos ser nosso dever alertar aos que compete essa responsabilidade.
Inicialmente vamos ponderar o momento que o segmento sucroalcooleiro está passando:
A) Forte aquecimento do mercado; B) Para atender a demanda dos produtos das usinas (segundo a UNICA) o país tem de ter um acréscimo de mais 15 usinas por ano até 2020; C) O mercado está com escassez de profissionais, principalmente em cargos chaves, e se nenhuma ação significativamente eficiente for tomada, principalmente em treinamento, fatalmente correremos o perigo de colocar em risco o futuro do setor por apagão de profissionais. Posto isto, retomemos a análise sobre Custo x Benefício ou Malefício.
Digamos que uma Usina esteja necessitando de um profissional X, cujo salário seja de valor Y, para facilitar vamos supor Y = R$ 10.000,00.
Ao buscar no mercado, por um acaso encontra um profissional que preenche os requisitos do cargo, e por uma “pretensa ação” de economia, embora pudesse pagar os 10.000, oferece 8.000, e devido, sabe-se lá as circunstâncias, o profissional aceita.
Primeira impressão que se tem: Que ótimo negócio para a usina!
Façamos os cálculos: 10.000 Salário Nominal + 120% de Encargos Sociais = 12.000, custo/mês igual a 22.000 contra 8.000 Salário Nominal + 120% de Encargos Sociais = 9.600, custo/mês igual a 17.600.
22.000 – 17.600 = 4.400 economia/mês ou 4.400 x 12 meses = 52.800 de economia/ano.
Parabéns! Que beleza de correlação de Custo x Benefício. Economia de R$ 52.800,00 ao ano.
Agora vamos aos malefícios, a cegueira da visão administrativa:
Levando-se em consideração que se tratando de usina, devido suas proporções, tudo que se mexe reflete em resultados econômicos de grande monta, tanto positivos quanto negativos, e nem sempre percebidos de imediato, podendo os resultados ser sentidos, e de maneira irreversível até vários anos após sua execução.
Exemplo: I) Na Área Agrícola, mal ou boa escolha de uma variedade, mal ou bons cuidados com os tratos culturais, erro ou acerto de estratégia de planejamento, etc, podem resultar em significativos prejuízos ou lucros, durante várias safras; II) Boa ou má competência com a administração e manutenção da frota de veículos e equipamentos (a qual representa um dos maiores custos da usina), pode resultar em alta ou baixa disponibilidade desta, e mesmo no aumento ou redução da vida útil dessa mesma frota; III) Na Indústria, quando se realiza uma má ou boa manutenção e/ou operação, pode-se aumentar ou diminuir as horas paradas, e você sabe quanto custa uma hora parada em uma usina?
Quando se contrata alguém abaixo do salário praticado no mercado, e vale ressalvar que o mercado se regula por si próprio, pode ser que aconteçam algumas possibilidades, tais como: A) O profissional está desinformado de seu valor de mercado, e quando descobrir o seu real valor provavelmente o reivindicará, ou procurará outra empresa que lhe pague o que considera um valor justo, e em um mercado aquecido tudo é uma questão de tempo para encontrar outro emprego. B) Talvez tenha aceito porque na realidade estava aquém das condições exigidas para a vaga, e daí dará o retorno proporcional à sua real condição, e com isso colocará em risco a eficiência nos resultados (vide análise no parágrafo acima).
C) O Salário desse funcionário será um parâmetro para o equilíbrio interno, de maneira que limitará a faixa de seus pares, e bloqueará a competitividade no mercado, deixando as faixas da empresa vulneráveis, o que num mercado muito aquecido é um verdadeiro suicídio. D) Com muita probabilidade o turnover aumentará, e a reposição das peças com o nível de qualidade necessário será totalmente improvável.
Resumo da Ópera: Se não tomarmos o cuidado de não conseguir enxergar além da visão simplista do que se vê, se estará transformando o aparente Custo x Benefício em um real Custo x Malefício.
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